segunda-feira, novembro 06, 2006

Cadáveres ao amanhecer (2ª Parte)

Minutos depois há um som que alerta a equipa. O choro de uma criança ecoa na floresta. Rapidamente todos acorrem ao local. Sobreviventes?
Um rapaz segurava um bebé. Ao ver os homens que correram na sua direcção também ele chorou e gritou.
A expedição partiu sem explicação possível para o que se tinha sucedido. O jovem foi tranquilizado com drogas e partiu também.
Não saía do canto do quarto, ninguém lhe arrancava uma palavra. As roupas que lhe davam para vestir eram rapidamente arrancadas. Houve uma psicóloga que consegui alguma afinidade com o rapaz. Uma jovem licenciada que ali estagiava, também ela de origem índia, foi a primeira a arrancar algumas palavras, ainda que tímidas à criança. «O meu irmão, quero ver o meu irmão! A minha mãe passou-mo para os braços!», disse. O seu irmão estava noutra ala do hospital, mas como se pensava que podia facilitar a relação paciente/terapeuta era-lhe permitido visitar o irmão. Quando chegava perto dele dizia «estamos vivos, conseguimos… nunca te vou deixar!»
Um mês depois dá-se a revelação:
- Tudo começou depois do homem branco lá ter ido. Diziam que queriam falar com o chefe da aldeia. – Disse o rapaz – Chegaram nos seus carros, todos bem vestidos e discutiram com o chefe, Águia Que Dança.
- Que queriam eles? – pergunta a psicóloga.
- Ninguém soube, o chefe apenas disse que a nossa história e os nossos valores pertencem ao todo poderoso e que nunca ninguém iria fazer com que Ele abdicasse deles.
- E as mortes? Tu achas que foi o homem branco?
- Não. – Respondeu secamente.
- Tens a certeza?
- Tenho. Sei quem matou o meu pai e o meu tio Águia Que Caminha.
- Quem? – Perguntou surpreendida a psicóloga.
- Houve um dia que a minha mãe veio ter comigo, levou-me até um sítio na floresta, deu-me o meu irmão e disse «fica aqui, eu vou matar o teu tio porque ele matou o teu pai e agora quer matar-nos a nós», puxou de uma catana e nunca mais a vi… - E acrescentou, - O pajem dizia que era a natureza que nos levava, mas a nossa própria natureza…
Hoje, 30 anos depois, ainda não se sabe o que se passou. Apenas se tem a certeza que as primeiras mortes foram provocadas pelos homens brancos. O instinto selvagem do ser humano, o facto de estarem confinados àquele espaço e a desconfiança fez o resto…
Nunca iremos saber ao certo o que somos quando nascemos, se somos animais naturalmente selvagens e agressivos ou sociáveis e afáveis. Somos apenas o que a sociedade nos impõe. Esta tribo ficou a saber.
Mas quem foram os verdadeiros culpados?
Hoje em dia, no local do aldeamento, encontra-se um complexo turístico.
Mas sem cadáveres ao amanhecer.
Fim?
Novembro de 2006

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