sexta-feira, agosto 29, 2014

Acabo em pedaços

O sol pôs-se
A vela apagou-se
Numa memória apenas escura.


A noite aquece
Num beijo que não se esquece
Caminhámos a ponte insegura.


Nela dançámos
E por entra carícias saltámos
Num jogo de delícias e bravura.


Cambaleamos sem deus
em desejos que afogam a vida
num relógio que não avança nem recua.


Começo em rima
Acabo em pedaços
Mergulho as mãos no vidro em estilhaços.


A dor é orgásmica e física,
Não algo que o meu cérebro idealizou.


Vendi as pingas do meu sangue para lucros alheios
Há já muito que se banquetearam nas minhas veias.
Prostrado por entre refeições
acaricío as entranhas da minha alma
...está suja e dormente.


Lavo-me com lágrimas secas que guardei
Bebidas em beijos roubados.


Juntos caímos em ossos quebrados
Numa piscina de mágoas
aqui rimos despreocupados.


Nadei por entre sentimentos perfeitos
que lentamente me digeriram a pele
até ser sangue e flor.


Essa desabrochou perante invernos de corações gelados
E consumiu um burado no peito inocente dos culpados.


Sente o sabor agridoce
por entre os lábios
E deixa que te possua por entre as grades que te libertam.


Ajo demente na invasão etéra dos sentidos
seguindo sem sentido nenhum.


Caminhando para casa
entre as suaves queimaduras no meu corpo.
Não há descanso do guerreiro
pois a morte trás uma eternidade dolorosa
para onde escolheste fugir.


Enterrei nela as memórias sonâmbulas
que me acordam de sonhos que nunca tive
e para os quais saltei do alto do prédio.


O asfalto salva-nos e é lento,
dá-nos tempo para correr por entre a vida e o amor.
Maratonas sem fim onde corremos sem gosto
espero por ti no final.


Sorrio-te cá de cima e aceno um olhar vazio
Encho as espectativas no fechar das cortinas
e os meus pensamentos adormecem no teu abraço
já não embalo os meus ódios que agora correm livremente


Dormente, dormente...
agitado cancelo os pecados que me salivam de raiva


Porquê, Porquê
abandono o corpo crucificado
e juntos aplaudimos a plateia
num espectáculo medonho que deu à maré baixa.


Sentei-me a ver este pôr do sol.
Soprei a vela.
Saltei do prédio.
Com o fechar das cortinas sorrio
e medito de olhos fechados
perante as feridas... acaricio a carne fresca.


Ahhhhh...