segunda-feira, setembro 25, 2006

Telepatia (3º e último acto)

Act tree
De facto, todo o mundo o ficou a conhecer. “O homem que preferiu saltar pela janela”, preferindo esse destino ao de morrer abraçado pelas chamas. O seu último pensamento foi o de pedir desculpa a Tim, por o ter abandonado desta maneira mas dadas as circunstâncias achou esta a decisão mais acertada.
O homem mais corajoso do mundo… Do mundo! Ninguém sabe o teu nome mas todos se prostram perante a tua coragem, és falado e relembrado e permaneces em sonhos e pesadelos de milhões de pessoas… Realizaste o teu sonho, nunca mais serás ignorado.
Nos dias seguintes, nos destroços, inúmeras equipas de busca procuravam sobreviventes. Vários agentes da autoridade estavam acompanhados de cães especialmente treinados para estas situações. No entanto, ao fim de muitas horas de sacrifício por parte de todos os implicados neste esforço, alguém reparou num certo cão que escava, ao som de latidos e gemidos ofegantes, por todos os destroços. De onde teria vindo e porque estaria ali? Toda a gente ficou estupefacta e comovida com esta atitude. Um cão, aparentemente vadio, entregava-se às escavações juntamente com as outras centenas de pessoas e animais que ali estavam. Tim parecia saber que o seu irmão estaria algures por ali. O pobre animal só parou quando tinhas as patas em ferida e não conseguia mais andar. As saudades do seu irmão causavam mais sofrimento do que qualquer dor física. A comovente história deste animal fez com que recebesse tratamento junto das equipas de socorro e houve muita gente que se voluntariou para adoptarem o “bicho”. Uma senhora de posição respeitável numa comunidade local, propôs que Tim fosse levado para uma instituição que ela dirigia para ser a mascote. Ela pensou que a força de vontade e a história de Tim seria um bom exemplo para as crianças. Especialmente para uma, que não parava de chorar desde que vira estes acontecimentos na televisão. Talvez ela precisasse de esperança. Quando Tim chegou à instituição dirigiu-se de imediato à criança que soluçava encharcada em lágrimas e num gesto de amizade lambeu-lhe a cara. A criança aparentava ter cerca de 4 anos e ser extremamente saudável, só que já não falava à três dias, desde que vira as imagens. Porém quando Tim o lambeu, virou-se para ele e disse:
«Olá! Estava à tua espera... O meu nome é Patrick, e o teu? Sonhei que vinhas ter comigo.»
Tim pousou a cabeça no colo da criança e esta sorriu.
Tim viria a falecer dias depois, não se sabe porquê. Tristeza? Depressão?
Ou alguém como que por telepatia lhe disse doutro mundo para ir ter com ele? Descansem em paz.
A criança, órfã de pai e mãe, nunca mais chorou.
The end

sexta-feira, setembro 22, 2006

Telepatia (2º acto)

Act two
Uma manhã houve que Tim não se levantou para lhe dar os bons dias. Estranho… foi ter com ele e Tim parecia doente e melancólico, emitia alguns gemidos mas que não pareciam vir de qualquer dor física. É a primeira vez que o vê assim. De cada vez que se preparava para sair de casa em direcção ao trabalho Tim parecia intensificar os seus gemidos. Mas teve que sair na mesma ou o italiano despedia-o e iria ser extremamente difícil tentar iludir outro patrão sobre a condição de ser seropositivo. De qualquer das formas iria vê-lo de novo quando chegasse.
Chegado ao trabalho o italiano gritou-lhe que não tolerava mais atrasos e que se estava pouco lixando para se o cão estivesse doente. Tinha uma entrega para fazer de 5 pizzas que lhe sairiam do bolso se chegasse atrasada. Era num 62º andar de um edifício bem conhecido. Seria brincadeira? Geralmente era alvo de partidas de gente mal-educada e sem nada melhor para fazer. E a hora, pouco depois das 9 da manhã parecia denunciar isso.
Chegado ao local, e após subir os andares de elevador, confirmou que não era brincadeira. Uma senhora tinha confirmado que estava grávida e ela e as colegas preparavam-se para festejar. Estavam eufóricas!
Mas poucos minutos depois, enquanto esperava pelo pagamento, o impensável acontece. Um estrondo ensurdecedor abana todo o edifício, foi como uma bomba a explodir e a ameaçar ruir toda a estrutura. A alegria transformou-se num cenário dantesco. Veio a saber-se que um avião desgovernado tinha-se despenhado contra o enorme prédio. Que teria provocado isto? Para piorar as coisas os elevadores ficaram unitilizados e os andares por baixo completamente destruídos. Não tinham como sair. Como poderia acontecer uma coisa destas? As chamas começaram a invadir os restantes andares. Encontrava-se numa prisão de fogo, habitada por pânico, lágrimas e gritos. Mulheres abraçadas em choros de desespero como quem vê a vida a ser consumida por chamas que devoram tudo em redor. Mas ele pensou, «esta é a minha hipótese, vou ser famoso em todo o mundo, hoje dia 11 de Setembro toda a gente vai ficar a saber quem sou, o homem mais corajoso do mundo»! Preparava-se para realizar o seu sonho. O que pode passar pela cabeça de um homem neste momento? Sem ser o pânico misturado numa vil aliança com o fumo a roubar-nos o oxigénio?

End of act two
To be continued…

(suspiro)...

O que seria da tua vida sem o teu olhar a iluminar-me?
Como seriam os meus dias sem o ardor da tua alma?
Porquê caminhar pelas trevas à procura da dor… se hoje posso encontrá-la no declínio do teu abismo
Uma flor... é mórbida?, porém delicada e deslumbrante é um fruto negro e proibido, lança no meu peito ferido ondas que tocam nas nuvens e inundam o infinito
Um castelo de espelhos na areia do meu tempo
O sangue quente derramado das veias do desespero
A escuridão é nobre, devora as estrelas
É o frio do coração que congela a minha tristeza
Vivo pela morte… numa sede vampírica
Sou as páginas do livro macabro e místico
Reflicto no teu ego a imagem mais nítida do alquimista à procura da amarga utopia, sinto o calor dos teus lábios
Vejo a lua através dos teus olhos
Sigo pregada na tua cruz, ferida pelos espinhos do amor envelheço mil anos por segundo…
São as asas que ardem em chamas e me levam ao vale da solidão onde encontro o meu abrigo desejado em tal sentido sem razão
Pois, tu és a canção lírica que reluz a minha alma negra
O teu sentimento obscuro é a minha felicidade mórbida
Preciso dizer que te amo…

Abril de 2005
Obrigado por teres partilhado o teu pensamento comigo. Autora Anónima

sexta-feira, setembro 15, 2006

Telepatia (1º capítulo)

Acorda embrutecido pelo sol que entra pelas persianas e é violentamente sugado para fora da cama. A vida nunca o favoreceu, vive bum subúrbio qualquer de uma grande cidade. Empurrado pela vergonha dos cidadãos para fora das suas fronteiras... e da sua vista. Ao aproximar-se da janela contempla a visão da auto estrada completamente lotada de impacientes e mal-humorados. Quem vem dar-lhe os bons dias é o fiel Tim. Conheceu-o quando uma trip de cocaína mais forte o empurrou para uma valeta e aí o deixou entregue à intempérie, até que um cachorro de destino semelhante lhe recuperou os sentidos e por ali ficaram, juntos, utilizando o calor corporal um do outro numa tentativa fútil de aquecerem. Quando pela manhã foram acordados pelos homens do lixo, deixou-se levar por Tim até à casa de chapas de alumínio e contraplacados onde ainda hoje vivem. Apesar de tudo este homem é feito de sonhos. Sonha ser conhecido por todo o mundo, (ou apenas a cidade que o ignora), e que alguém na sua situação também pode ser reconhecido pelas melhores razões. Faz pela vida a entregar pizzas num pequeno restaurante de cozinha italiana gerido por um imigrante italiano que ali o explora e às próprias filhas.
Toma o pequeno almoço juntamente com Tim. Restos de uma "4 estações" que conseguiu desviar da atenção do italiano. Este momento matinal é o momento de união entre dois eternos amigos que nunca conheceram outra família e que se conhecem como se uma telepatia os ligasse mesmo quando estão longe um do outro. Tim tem a cabeça pousada no colo, não de um seu dono mas de um seu irmão. A mãe de Tim foi atropelada na auto estrada que se vislumbra da janela, e o seu irmão a única família que conheceu foi uma rapariga que antes de morrer de SIDA lhe disse que ele tinha sido pai de uma criança que fora entregue a uma instituição e que se chamava Patrick. Ficou chocado, nunca tinha entrado num hospital e, quando ao visitar a única pessoa que se tinha preocupado minimamente com ele a definhar devido a uma doença, ficou, de uma vez só, a saber que tinha sido pai e que tinha SIDA. Voltou para a rua nesse dia e comprou uma dose de droga muito má, que o levou a um estado onde acabaria por encontrar Tim.
End of act one
To be continued...