segunda-feira, outubro 30, 2006

Cadáveres ao amanhecer (1ª parte)

Começaram a aparecer cadáveres por todo o lado. Dia após dia as mutilações tornavam-se cada vez mais macabras. O responsável por todo este rasto de morte parecia estar a entusiasmar-se cada vez mais com o sofrimento das suas vítimas. A cada chaga que infligia dava a sensação de ganhar com isso prazer e motivação para procurar a próxima vítima, ou presa. Os mais anciãos não tinham memória de acontecimentos semelhantes. Dizia a mais velha da aldeia «Deus nos acuda! Vamos todos morrer, não é por mim, ele que poupe pelo menos os meus netinhos! Ai, meu Deus que não há quem nos valha!».
O desespero apoderou-se de famílias inteiras. Há um sentimento de fatalidade presente em todas as faces… em todas as vozes… em todos os olhares. Ninguém conversa com ninguém, por outro lado, podem fazê-lo, mas não como dantes. Já ninguém sabe se conhece o vizinho do lado tão bem como pensava. Com quem estarão a falar? Será a próxima vítima? Ou será(ão) o(s) assassino(s)?
Ao fim de uma semana o cheiro a morte há muito se tornara insuportável. O cemitério cada vez mais cheio e as casas cada vez mais vazias. O medo de sair à rua está instalado, no entanto no dia seguinte lá está, mais uma vez, e outra, outra mais…
O caso tornou-se ainda mais grave quando “Águia Que Dança”, o chefe da aldeia, apareceu completamente desfigurado e trucidado no seu abrigo. “Touro Que Dança”, seu irmão, o melhor e mais forte guerreiro da aldeia, ajoelhou-se junto dele e chorou. Nunca ninguém o tinha visto a chorar. O “pajem” logo disse «se Touro Que Dança chora não temos escape possível, chegámos ao fim…»
Cada amanhecer era cada vez mais tardio e sombrio.
A notícia chegou ao governo central que prontamente enviou uma equipa de antropólogos para o local. Quando chegaram uma aldeã confeccionava uma qualquer espécie de artefacto. Ao avistá-los desatou numa chinfrineira de gritos, pegou numa criança e correu para a floresta. Todos os outros sobreviventes a seguiram. «Esta não foi a melhor estratégia», diziam, «mas porque fugiram de nós? Não é a primeira vez que vêem homens brancos…». Não ficou ninguém para os receber. Nesse mesmo dia, conforme chegaram, partiram.
Passaram a noite na floresta, sem dormir. De manhã estava tudo na mesma e a vida na aldeia voltou à “normalidade”. Vida durante o dia, morte durante a noite, cadáveres ao amanhecer…
Parecia existir um estranho conformismo em todos em relação a esta fatalidade. Os mais novos, devido à sua inocência (ignorância?), pareciam abster-se de tudo isto. Brincavam, uns com os outros nunca sozinhos, sempre sob o olhar atento de “Touro Que Dança”. A sua lança estava mais afiada que nunca e recusava-se a limpar as pinturas de guerra da sua face.
Uma semana mais tarde a equipa de antropólogos voltou. Vinham acompanhados de alguns elementos do exército que, apesar de desarmados, tinham como missão garantir a segurança da expedição. Antes de chegarem o fedor era intenso e os homens tiveram que colocar máscaras. A aldeia está deserta. Alguns animais alimentam-se dos corpos espalhados pelo chão. Foi imediatamente chamado um delegado de saúde. Ninguém se arriscava a entrar mais longe. Quando chegou, o tal delegado de saúde, vomitou após analisar alguns dos corpos. Quando finalmente foram ensacados todos os mutilados deu-se então início à recolha de todas as informações possíveis para desvendar o que se tinha passado. O aldeamento, agora lavado de corpos, está estranhamente calmo. Não se ouve vivalma. Está tudo como se não se tivesse passado nada. As cubatas mantinham-se intactas. Os instrumentos de trabalho estão arrumados e limpos.
Fim da 1ª parte
Continua...

quinta-feira, outubro 19, 2006

March against war

Walks with me side by side,
Keeps me company through the night.
Here we walk giving hands,
Going nowere here we stand.


Causing wars due their pride,
Hungry people find a place to hide.
Bombs exploding ‘cause of god,
Please spare me, I’m just a slob!


Presidents fighting everywhere,
I’ll fight for you, that I swear.
So walk with me let’s stay together,
We’ll find ourselves other place but better,
You are my war…
And I’ll fight forever!


Outubro de 2006

Chiu!...

O silêncio não vale ouro… vale tudo…
Imagina o mundo se vivêssemos em silêncio, calados…
Aquele que outrora foi o teu melhor amigo, provavelmente hoje ainda o seria.
Ainda receberias aquele abraço de cada vez que, euforicamente, te via.
Aquele que amas em segredo ainda te daria a mão quando caminham juntos.
Não ficarias a desejar o seu beijo em certos momentos.
Aqueles que te amaram e to disseram ainda te respeitariam.
E pensas agora como te batia a palavra “amo-te” de cada vez que to diziam.
Aqueles que te respeitam ainda os amarias.
Hoje és pisado e assim será até ao fim dos teus dias.
Por isso esta noite não digas nada, a minha boca vai estar fechada.
Vamos ficar a ver o céu, abraçados, de mão dada…
Quanto te for a sair uma palavra,
Beija-me na boca… e deixa estar tudo como estava.

Outubro de 2006

segunda-feira, outubro 16, 2006

Anjos e Demónios (parte 2)

Demónios
Não, não nada é teu,
Tua mulher, teu carro é tudo meu.
Vendo-te o sonho como um sentido,
Tu serves-me, que de nada sirvo.
Prisioneiro a tempo inteiro,
Pensas em Deus, Deus já te esqueceu.
Agora és todo meu, todo meu!

Não, não! Não tenho tempo
Para ouvir o teu lamento.
Quando parasitas fazem o que quer,
Fico logo quente e os teus enterro.
Enfraquecido e embrutecido,
Pensas em Deus, Deus já tudo deu!
Agora és todo meu, todo meu!

E o diabo dança
Já não tem importância!
Já não tem esperança!
E o diabo em nome da tua raça
Diz-me o que é que se passa,
Já não tem importância…
"O diabo dança" - Fora de mão
Outubro de 2006

Anjos e Demónios (parte 1)

Anjos

Há algo que me toca…
Percorre-me e deixa-me paralisado com o seu perfume.
Não há mito urbano que o explique, nem enciclopédia onde esteja presente.
Algo que apesar de pequeno me protege no calor das suas asas e me eleva aos reinos dos céus onde, aí, finalmente me encontro e explico.
Há uma música sem instrumentos a ser tocada, ao som da qual danço seduzido por este anjo.
Abstenho-me das guerras dentro e fora de mim que normalmente controlam a minha vida. Afugenta os demónios que me devoram e cravam as suas garras cada vez mais fundo na minha carne. Embrenho-me em sonhos de ternura e escondo-me atrás das suas asas para assim evitar ser acordado.
Tento escrever o que sinto mas não tenho vocabulário para o fazer, com muita pena minha porque era algo que gostava de revelar. Faz-me desejar ser um príncepe encantado, mas o meu cavalo é negro a teus olhos.
Sinto-me minúsculo ao pé da grandeza que apresenta, o que se torna um obstáculo nas danças a que nos entregamos.
Quando finalmente acordo, o sonho caminha a meu lado, nos sons… nos cheiros… no olhar… na memória.
Guardo a bailarina e fecho a caixa de música que me embala.
Apercebo-me que sonhei com algo que nunca tive, nem tenho, e que ainda assim morro de medo de o perder! O que és afinal? Não sei, mas adorava saber…
Outubro de 2006

quarta-feira, outubro 04, 2006

Depois daquela noite...

«As almas são, na vida como na morte, iguais. São livres de serem o que querem. Escolhem, seguem e vivem os seus caminhos livremente. A única diferença é que na morte essas escolhas são espelhadas de forma perfeita, tal qual tu as vês, como me vês. Tu vês o que eu quero que tu vejas porque eu assim me defini. Como se estivesses num sonho. Quando sonhas é a tua alma no seu momento mais puro a querer libertar-se e a viver por si só, não podes fazer nada para o evitar, não a consegues controlar, não há regras...»
Ricardo Mouro num devaneio em que deixou de ouvir o professor...