quinta-feira, agosto 31, 2006

Sentimento

Não sei o que sinto…
Por vezes uma agonia que me revolta,
capaz de me deitar por terra.
Ligo a televisão e surpreendo-me.
Começou mais uma guerra.
Outras vezes um ódio que me sufoca,
capaz de me fazer explodir.
Os ricos cada vez mais ricos,
e cada vez mais crianças na rua a pedir.

Não sei o que sinto…
Por vezes uma solidão que me deixa inerte,
capaz de me por a escrever,
a desejar uma noite inteira
o momento em que te vou conhecer.
Outras vezes uma violência que por mim sobe,
capaz de me fazer sofrer.
Mas basta apenas um leve olhar nos teus olhos,
para me redobrar a vontade de viver.

Não sei o que sinto…
Por vezes que a vida me persegue,
que tudo de mal que me acontece é um aviso.
Mas depois estou contigo,
e apercebo-me que tu és tudo o que preciso!
A vida faz mais sentido,
o sol brilha com mais intensidade,
o luar é mais romântico…
E os momentos passados sem ti são invadidos pela saudade!

Abril de 2006

Amor e Ódio

Por ti vivo no planeta dos sonhos, cercado pela utopia de uma magia que me libertará e me deixará ir longe neste mar nocturno e espelhado.
Embalado pela esperança de que sobrevivo em teu pensamento, alimentado por uma paixão que tem a capacidade de me deixar morrer à fome.
Sinto um perfume que me desperta sensações de tortura e deixo-me invadir pelo prazer de vaguear por entre as ruas desta cidade que nunca dorme, perseguindo o rasto que emanas. Sigo o desejo de que sejas real, para além dos pesadelos e insónias que me provocas, por seres o ser mais belo que já imaginei.
Não és real… não podes… é impossível…! Tenho a certeza que nunca me darias a hipótese de te amar. És apenas o fruto da minha embriaguez mental que tenta procurar um refúgio para ela própria.
Serei hipócrita, ou apenas sonhador?
Que procuro eu? A ti?
Não pode ser verdade, se fui eu te criei, para sofrimento próprio!
Tens que me ajudar, pega na tua arma, que és tu, e decide!
Dá-me a tua mão ou corta a minha!
Corre comigo por entre esta cidade ou rasteira-me, e ri-te de mim a plenos pulmões enquanto eu injustamente caio na humilhação de um dia sequer te ter amado sem o mereceres!
Será crime amar sem ser amado? O castigo é pior do que para alguém que provoca uma guerra e mata milhares de inocentes… Inocentes que, de certeza, também amaram… Mas, e quantos foram amados? Diz-me o que sentes dir-te-ei o quanto sofres!
Atinge-me o coração dos sentidos como uma orquestra de espingardas automáticas e o poder de fogo da 9ª sinfonia, e põe-me a pensar:
Sem ti o que é que eu faria?
Nem amava, nem sofria…

Abril de 2006
Um dia senti-me assim...
O texto que viria a ser o responsável pelo nome do blog.

Tudo o que quero

Dá-me o sol, dá-me a lua, dá-me as estrelas...
Dá-me o romantismo de um jantar à luz das velas!
Dá-me uma duna, uma praia, todo o mar...
Dá-me os céus e o poder de voar!
Dá-me cordilheiras inteiras e grutas sem fundo,
Dá-me as sete maravilhas do mundo!!
Dá-me o quiseres, não quero nada.
Quero-te a ti, junto a mim, sentada...
Quero os teus lábios junto aos meus,
Quero tocar o teu corpo desenhado por Deus!
Quero sentir no meu corpo o teu perfume
E as tuas mãos que me tocam como lume.
Quero beijar toda a tua pele,
E poder sentir o teu sabor a mel!


Dá-me todo o mundo e a sua natureza,
Mas nada, nunca,
Nada se comparará à tua beleza!

Janeiro de 2006


Dedicado a quem me inspirou e ao amor que nunca existiu entre nós. Este poema és tu e é todo teu. A ti te agradeço...

O Crime

Corre o sangue pelo chão,
Ao qual se juntam lágrimas derramadas em vão.
Desta ferida aberta que nunca fecha
No corpo do homem que te deseja.


Perde a força a cada gota que cai
E a vontade de viver a cada lágrima que sai.
Cada passo na tua direcção é dado em falso,
Toda esta viagem que percorre é um percalço.


Pobre homem este, miserável a sua sorte,
Abandonado e à mercê da morte.
Culpado no crime de te amar
Castigaste-o com uma ferida que nunca há-de sarar.


Vem a morte como escape
Sem qualquer hipótese de resgate
E liberta a sua alma do sofrimento,
Dando-lhe o paraíso em cada momento.

Abril de 2006

O Grito

A imponência de um grito mudo, saído de uma mãe com fome, traz-me à memória momentos vários e distantes. Aqueles em que viver era uma obrigação e alguém era dono dos nossos destinos. Momentos que vivem milhões de anónimos, cujo único erro foi nascer e ter uma mãe muda de fome que nunca os abandonou.
Grito caído no escuro do abismo, não deixes de mostrar o teu sofrimento! Eu vivo no abismo e estou lá para te ouvir, contigo sofro e abraço-te no meu peito. Mostro-te que sou diferente dos que te chicoteiam e te exploram! Não te quero levar as filhas, não quero o teu trabalho, não quero a tua vida… Quero limpar-te as lágrimas e pegar a tua mão. Quero levar-te numa viagem e mostrar-te um mundo com justiça e igualdade, aquele em que tens o direito de sonhar.
Quero levar-te a todo lado e mostrar que existes, àqueles que mais te ignoram mas ao mesmo tempo mais te provocam! Porquê? Quanta ignorância prevalece no seio deste milagre que é a vida… E as injustiças neste milagre que vezes demais nos leva ao desespero… Milagre?! Imploro por um milagre que venha alterar tudo isto! Não precisa de ser um milagre, basta uma atitude. Uma atitude que desvenda o que está por detrás da burkha. Ou que mostre o que está para além da lâmina que excisa e do suor de uma criança.
Quantos pobres precisas para seres rico?
São sempre os mais fracos e pobres que mais sofrem, é o castigo de serem miseráveis, de uma vida a trabalhar. Porque é que quem nunca teve nada tem de acabar da mesma forma? São uns tristes! Pois, são tristes porque existem os outros que são felizes e provocam esta distinção. Quantos gritos mudos mais iremos ouvir? Os mesmos que ouvimos até agora, fingimo-nos de surdos!


Abril de 2006

O que somos nós?

O que somos nós?

O que somos nós?!
Imagina um casal que gera um filho, cria-o, educa-o e passa sacrifícios vários para fazer dele um homem. O que fazem apenas é adiar-lhe a hora da morte. Ninguém escapa a essa sorte porque nós não somos nada!

Uma criança que passa fome, uma mãe que não dorme…
Uma criança que adoece, uma mãe que reza a sua prece…
Uma criança que morre… uma vida perdida, uma mãe ressentida, incapaz de trazer nova luz e brilho aos olhos do seu rebento, condenado a uma vida de tormento. Nenhum pai deve enterrar os seus descendentes. Mas quando a vida é injusta, amarra-nos com correntes, com unhas e dentes. Que pode um pai fazer? Nada, porque nós não somos nada.

A riqueza injustamente espalhada pelo mundo, guerras que vão fazer o humano bater no fundo e levar-nos à extinção. A incapacidade dos líderes em pedir perdão, leva os inocentes a batalhas confusas e sem precedentes. O problema da guerra que prolifera no planeta terra, é o resultado da ganância de personalidades sem importância em busca de relevância. Deixam um rasto de viúvas e órfãos. E sangue nas suas mãos, assassinos! E tudo isto porquê? Nós não somos nada.

Sempre que um manifestante é espancado, um mero transeunte apunhalado, um homem roubado e um casal de idosos burlado, a morte sorri-nos com um carinho especial. Sorri-lhe de volta, pois neste mundo social ela está em todos os cantos, esperando-nos com epidemias e cancros. Não lhe podes fugir, quando ela estiver para vir, já sabes, só te resta sorrir.

Mas há coisas que não têm explicação e muitas outras para além da razão. Diz-me tu, do interior da tua sabedoria sem fim:
Se nós não somos nada, porque é que tu és tudo para mim?

Agosto de 2005