quinta-feira, agosto 31, 2006

O Grito

A imponência de um grito mudo, saído de uma mãe com fome, traz-me à memória momentos vários e distantes. Aqueles em que viver era uma obrigação e alguém era dono dos nossos destinos. Momentos que vivem milhões de anónimos, cujo único erro foi nascer e ter uma mãe muda de fome que nunca os abandonou.
Grito caído no escuro do abismo, não deixes de mostrar o teu sofrimento! Eu vivo no abismo e estou lá para te ouvir, contigo sofro e abraço-te no meu peito. Mostro-te que sou diferente dos que te chicoteiam e te exploram! Não te quero levar as filhas, não quero o teu trabalho, não quero a tua vida… Quero limpar-te as lágrimas e pegar a tua mão. Quero levar-te numa viagem e mostrar-te um mundo com justiça e igualdade, aquele em que tens o direito de sonhar.
Quero levar-te a todo lado e mostrar que existes, àqueles que mais te ignoram mas ao mesmo tempo mais te provocam! Porquê? Quanta ignorância prevalece no seio deste milagre que é a vida… E as injustiças neste milagre que vezes demais nos leva ao desespero… Milagre?! Imploro por um milagre que venha alterar tudo isto! Não precisa de ser um milagre, basta uma atitude. Uma atitude que desvenda o que está por detrás da burkha. Ou que mostre o que está para além da lâmina que excisa e do suor de uma criança.
Quantos pobres precisas para seres rico?
São sempre os mais fracos e pobres que mais sofrem, é o castigo de serem miseráveis, de uma vida a trabalhar. Porque é que quem nunca teve nada tem de acabar da mesma forma? São uns tristes! Pois, são tristes porque existem os outros que são felizes e provocam esta distinção. Quantos gritos mudos mais iremos ouvir? Os mesmos que ouvimos até agora, fingimo-nos de surdos!


Abril de 2006

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