terça-feira, maio 29, 2007

Primavera sem flores.

As luzes apagam-se, a cortina desce…
O teatro de gelo derrete-se e flúi para destino incerto, deixando actores em lágrimas e espectadores intriguistas em êxtase. Prostramo-nos perante a mentira enquanto ignoramos o desabrochar das flores. Colho as flores e o desgosto, meu e alheio, numa repugnância fértil em castigos dos quais nunca me rendi. Assim vivemos numa harmonia perfeita entre o sofrimento e a miséria. É assim, mais que merecido um aplauso em pé.
Ovacionados pelos nossos assassinos que nos colhem as flores testemunhei o nascimento daquele que não tem pai nem mãe. Aquele que, posteriormente, morreu em teus braços e eu enterrei sem direito a velório. Testemunha na vida e morte do mais querido que já tive oportunidade de não ter. A reanimação foi tua ignorância e terra em cima da caixa torácica onde foi enterrado. Mãe e Morte do fado lindo agastado na monotonia do amor. Madrasta e Vida de momentos paralelos e lentamente agoniados pela não presença daquela timidez carinhosa que tinha toda a importância num mundo que se extinguiu… e nunca foi chorado.
E passou-me a loucura temporária, vivida no fio do horizonte do jardim que disfarça a campa dos meus momentos enganosamente felizes, que subtilmente colheste sem sobreaviso ou intenção de esfaquear.
Nada faz sentido.
Nada foi em vão.
Percebo agora a cor do sangue que se esvai de mim.
Vermelho de paixão que não é…
Vermelho de fogo que se apagou…
Vermelho da flor que o Outono colheu com tuas mãos do meu coração.
Com tuas mãos me acariciaste,
Com tuas mãos (a bela flor) te colheste…
Continuará?

1 comentário:

Batista disse...

é impressão minha...ou não tens escrito muito, Mourinholakis ??

Vá, a ver se agora inventas uma prosa qualquer sentimental sobre a importância dos nenufares para a procriação dos sebúfilos e dos fagundes !! Eu sei que o meu bom amigo é capaz !