Apresentou-se-me como alguém que respirava os seus sonhos, e regia a sua vida em função deles. De fácil trato e amoroso para o ambiente em redor, contrastava por vezes com uma revolta face às injustiças que facilmente se encontravam e lhe tocavam na consciência. Um revolucionário romântico. Não é preciso ser-se um génio para facilmente depreendermos que o séc. XXI não se coaduna nem está preparado para receber um “novo” Che Guevara, e não só devido às questões políticas (ou falta delas). Confessou-me certa vez que ostentava uma fotografia do “Comandante” num placar de cortiça na parede do seu quarto.
«-Um homem como nunca mais haverá! – dizia com um brilho nos olhos – Viveu e morreu seguindo os sonhos da igualdade, solidariedade e justiça! Claro que os lordes deste mundo não podiam permitir que ele vivesse…»
Comigo partilhou muitos dos seus sonhos e a forma como os idealizava no escuro do seu quarto enquanto esperava ser abraçado pelo sono e cansaço.
Um dia houve que se dirigiu a mim e, num misto de cabisbaixo com uma revolta prestes a explodir, disse-me que «merda de vida esta, que não me merece». Não havia sido capaz de pôr um dos seus sonhos em prática. Ignorância, medo, receio, palavras repetidas apenas com o intuito de justificar as lágrimas que tinha derramado anteriormente. Nem quero calcular o que teria ele sentido, uma pessoa que, na minha opinião, está mais capaz de derramar o seu próprio sangue do que um punhado de lágrimas. Alguém a quem os sentimentos pregaram uma rasteira e toda a ideia do romantismo revolucionário desabou sobre ele ferindo-o violentamente sem sequer o ter tocado…
Hoje vive agarrado à realidade e parece-me estranhamente feliz, mas consigo próprio, como se vivesse alheio e isolado num local por ele idealizado, tudo na sua mente. Como se tivesse atingido um novo nível espiritual desconhecido dos restantes mortais…
« - Vou agarrar-me ao que tenho e ao que me dá garantias. – argumentava – ao palpável, deixar-me de sonhos que nada de bom me trazem e só me enfraqueceram. Porém não guardo ressentimentos.»
Nunca soube o que raio tinha desmoronado aquela enorme torre. Disse-me apenas que alguém, outrora lhe havia dito «que a vida são dois dias e temos que aproveitar, essa é que é essa!»
Recusei-me a alongar a conversa, pressupus que não levaria a lado nenhum e não o queria castigar mais com o assunto.
Suspeitei do que aconteceu quando vi que uma das fotografias que tinha na parede havia desaparecido. A ignorância, o medo e o receio não deixavam de existir, mas agora, pelo menos, já não eram vistos lado a lado com ele. Quem diria que um dia caminhou lado a lado com o seu demónio? E quem não caminhou já?
A fotografia do “Comandante”, essa, ainda lá está…
Faz-me feliz ver a forma com agora se tornou mais objectivo e de pés assentes na terra. Mas eu sei que lá no fundo, e naquele interior ferido, ainda vai sonhando… Mas sem tanta dor.
Algures em 2007
«-Um homem como nunca mais haverá! – dizia com um brilho nos olhos – Viveu e morreu seguindo os sonhos da igualdade, solidariedade e justiça! Claro que os lordes deste mundo não podiam permitir que ele vivesse…»
Comigo partilhou muitos dos seus sonhos e a forma como os idealizava no escuro do seu quarto enquanto esperava ser abraçado pelo sono e cansaço.
Um dia houve que se dirigiu a mim e, num misto de cabisbaixo com uma revolta prestes a explodir, disse-me que «merda de vida esta, que não me merece». Não havia sido capaz de pôr um dos seus sonhos em prática. Ignorância, medo, receio, palavras repetidas apenas com o intuito de justificar as lágrimas que tinha derramado anteriormente. Nem quero calcular o que teria ele sentido, uma pessoa que, na minha opinião, está mais capaz de derramar o seu próprio sangue do que um punhado de lágrimas. Alguém a quem os sentimentos pregaram uma rasteira e toda a ideia do romantismo revolucionário desabou sobre ele ferindo-o violentamente sem sequer o ter tocado…
Hoje vive agarrado à realidade e parece-me estranhamente feliz, mas consigo próprio, como se vivesse alheio e isolado num local por ele idealizado, tudo na sua mente. Como se tivesse atingido um novo nível espiritual desconhecido dos restantes mortais…
« - Vou agarrar-me ao que tenho e ao que me dá garantias. – argumentava – ao palpável, deixar-me de sonhos que nada de bom me trazem e só me enfraqueceram. Porém não guardo ressentimentos.»
Nunca soube o que raio tinha desmoronado aquela enorme torre. Disse-me apenas que alguém, outrora lhe havia dito «que a vida são dois dias e temos que aproveitar, essa é que é essa!»
Recusei-me a alongar a conversa, pressupus que não levaria a lado nenhum e não o queria castigar mais com o assunto.
Suspeitei do que aconteceu quando vi que uma das fotografias que tinha na parede havia desaparecido. A ignorância, o medo e o receio não deixavam de existir, mas agora, pelo menos, já não eram vistos lado a lado com ele. Quem diria que um dia caminhou lado a lado com o seu demónio? E quem não caminhou já?
A fotografia do “Comandante”, essa, ainda lá está…
Faz-me feliz ver a forma com agora se tornou mais objectivo e de pés assentes na terra. Mas eu sei que lá no fundo, e naquele interior ferido, ainda vai sonhando… Mas sem tanta dor.
Algures em 2007
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